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Logo após rezar o Angelus, o Papa Francisco recordou a beatificação de seu conterrâneo, o cardeal Pironio, durante celebração Eucarística presidida no sábado pelo cardeal espanhol Fernando Vérgez Alzaga:
Ontem, no Santuário de Nossa Senhora de Luján, na Argentina, foi beatificado o cardeal Eduardo Pironio, pastor humilde e zeloso, testemunha da esperança, defensor dos pobres. Colaborou com São João Paulo II na promoção dos leigos e nas Jornadas Mundiais da Juventude. Que o seu exemplo nos ajude a ser uma Igreja em saída, que se torna companheira de caminho de todos, especialmente dos mais fracos. Um aplauso para o novo Beato!
O cardeal Eduardo Francisco Pironio “soube enfrentar as provações e as dificuldades com serenidade, com um sorriso no rosto” e a alegria nos sofrimentos “é uma característica dos santos”. Para ele, como para Santo Agostinho, “a humildade era a casa da caridade”, não “uma humildade dura, ostensiva e exasperada, mas amorosa e alegre”.
Com essas palavras o cardeal espanhol Fernando Vérgez Alzaga, delegado do Papa Francisco, recordou alguns dos traços principais do pastor argentino - de quem foi secretário pessoal durante 23 anos, desde a sua chegada a Roma em 1975 até à sua morte em 1998 -, na homilia da Missa de beatificação do cardeal, celebrada no Santuário mariano de Nossa Senhora de Luján, na Argentina, onde está sepultado o novo beato. O arcebispo de Mercedes-Luján, dom Jorge Scheinig, leu com emoção as passagens da Carta Apostólica do Papa para a beatificação. A memória do novo será celebrada pela Igreja no dia 4 de fevereiro de cada ano.
“Magnificat!” é a palavra mariana que, para o atual presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, resume a vida do cardeal Pironio, que foi batizado no Santuário de Luján em 1920, ordenado sacerdote em dezembro de 1943 e então bispo, em 31 de maio de 1964. E é a palavra que ele repete continuamente em seu testamento espiritual.
O cardeal Vérgez Alzaga, ao agradecer ao Papa por ter desejado que a beatificação do cardeal argentino se realizasse precisamente “aos pés de Nossa Senhora de Luján, coração da Argentina”, lê o que o então cardeal Bergoglio havia escrito sobre Pironio em 2008 : “Ele abria para ti uma dimensão de santidade a partir da sua profunda humildade. Abria horizontes, fazia experiência que nunca fechava a porta para ninguém. Demonstrava grande paciência. Nisto ele refletiu o amor de Deus por nós”.
Missa de Beatificação do cardeal Pironio no Santuário de Nossa Senhora de Luján
Além disso, na Carta Apostólica para a beatificação, Francisco descreve o novo beato como um “pastor humilde segundo o espírito do Concílio Vaticano II, uma testemunha de esperança e paciência evangélica, um defensor incansável da causa de seus irmãos mais pobres". O purpurado espanhol resume então os acontecimentos humanos do dardeal Pironio, desde que prestava serviço pastoral no Seminário da Diocese de Mercedes (atual Arquidiocese de Mercedes-Luján), como professor de literatura, dogmática, cristologia, teologia sacramental, teologia fundamental e filosofia, e já era ligado de forma indissolúvel a Maria, Nossa Senhora de Luján, "aqui venerada pelos fiéis de toda a Argentina".
Em seguida, o cardeal relê a comovente oração improvisada pelo novo beato no domingo, 28 de setembro de 1975, antes de partir para Roma para assumir as novas funções como pró-prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, chamado por São Paulo VI. Uma oração de obediência ao Pai, mesmo que lhe custasse sacrifício e renúncia:
“Senhor, quero colocar no teu coração a minha própria aniquilação, a minha própria cruz, aquilo que me custa partir, aquilo que me custa fazer a tua vontade.”
E Pirônio agradecia ao Senhor por tê-lo feito ouvir três coisas muito claras: “Que Deus é meu Pai e me ama; que é necessário viver a fecundidade da Cruz para ser semente e que Maria, Nossa Mãe, está sempre ao meu lado”. O Pai, a Cruz e Maria.
No dia do início do seu ministério em Roma, ao lado de São Paulo VI, 9 de dezembro de 1975, o cardeal argentino escreveu no seu diário: “O Papa chamou-me para trabalhar ao lado dele! Não sei nada, não posso nada. Mas entrego-me como Maria: 'Sim, sou o servo do Senhor: faça-se em mim segundo a tua Palavra'". E depois: “Quanto me custou deixar a diocese e o Celam, a família e a pátria, os amigos e os parentes! Agora estou sozinho no caminho: mas o Senhor está comigo. Que confiança!”.
Em sua homilia, o cardeal Fernando Vérgez Alzaga sublinha depois que o imenso amor de Pironio por Cristo “transformou-se em amor pelos irmãos, para que também eles pudessem experimentar as riquezas do Coração divino”. Por isso “tudo foi feito por todos para zelar por eles na causa de Cristo”.
Como “seu secretário pessoal em Roma durante muitos anos – recorda ainda o delegado papal – experimentei verdadeiramente a sua paz interior, a sua profunda amizade com Deus e o seu espírito de santidade. É um fato vivido por todos aqueles que o conheceram e o encontraram". Viveu heroicamente, continua, as virtudes da fé, da esperança, da caridade, mas interpretou-as “à luz das bem-aventuranças, da mansidão, da misericórdia e da pureza do coração”.
A última parte da homilia é dedicada aos anos como presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, de 1984 a 1996: um serviço que o cardeal Pironio desenvolveu “em torno de três prioridades: formação, comunhão e participação, em profunda sintonia com São João Paulo II”.
A sua atividade pastoral e apostólica, recorda Vdom érgez Alzaga, “manifestou-se sobretudo na organização e promoção dos leigos, em particular dos jovens e das Jornadas Mundiais da Juventude”. Em janeiro de 1995, durante a décima JMJ em Manila, nas Filipinas, Pironio escreveu que “Hoje se trata de escolher novamente o Senhor e de nos comprometermos a servi-lo: como missionários, no coração da sociedade”.